Prece ao deus dos Míopes

Paula Diniz
edição 4

Ao Papai do Céu e da Terra
Criador de tudo o que há de belo e imundo
Óculos, binóculos, lentes e lupas
Dentes, serpentes, bazucas e burcas
Rogo por discernimento, sapiência e nitidez
Pra reconhecer a tempo
As devidas proporções das ilusões desse mundo
Para que quando eu estiver prestes a me esquecer
Vagando, pairando, sem eira nem beira
Às margens da confusão
Míope
Ofuscado por essa poeira
No olho do furacão
Sem meus fundos de garrafa
Cara a cara com a minha cegueira
Desiludido, despido de fé e coração
Malfadado, judiado, renegado, mal-amado,
Irado, abismado, confiscado, enfeitiçado,
Rumo à perdição
Meu Pai me lembre de que sou,
Na minha pequenez,
Apenas mais um mortal
Abaixo do céu
E um gigante
Único
Dotado de alma e amor
Acima do pó.

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