Oscar P. Machado
edição 4
mal afrouxa o dentinho
e não há maça-do amor
que agüente tanta mordida,
não há corda amarrada na porta
que suporte a fúria infantil
vencida a batalha
expõe-se o produto na vitrine,
entre o colchão e o travesseiro,
espécie de mercado negro
à noitinha
um cheiro de menta,
ou de ervas,
toma o ambiente, quando
pela janela ela entra
montada em sua escova de dentes mágica
a freguesa da garotada
a Bruxinha do Dente!
com seu belo e esvoaçante
vestido fluorido
varinha mágica? não
chicote de fio dental
uma chicotada para pesa-los o sono
para assegurar a identidade secreta
um molar aqui,
um pré-molar ali.
os caninos é que são raros
e caros!
faltava um bendito canino
o painel da escova indicava
que o combustível acabava
teve que abastecer num banheiro
creme dental bom!
aditivado!
mais rendimento para a escova mágica
janela a dentro e janela a fora
noite a fora
e o canino?
cadê?
já pensava em adiar a entrega
estava cansada da busca
coitada,
trabalho noturno não é fácil
bebeu um pouco de anticéptico bucal
ahh! que refrescante!
revigorante!
vamos?
lembrou!
sim!
como um estalo
bem, parecia mais o som
do giro rápido
da broca de um dentista
lembrou!
sim!
de um bom fornecedor
menino disciplinado
nada de balas e chicletes
sem exagero de doces
serviço completo
após cada refeição
lá estava:
branco,
sem cáries,
ótimo produto!
satisfeita
abriu um sorriso brilhante
encaixou-o num aparelho estranho
dividido em duas partes
conseguiria completar a entrega hoje?
acelerou a escova
saiu cantando...
cantando...?
cerdas?
é, cerdas
chegou!
sim!
chegou em tempo
pouco antes de amanhecer
janela a dentro
no criado mudo
entre caixas de remédios
seu pagamento a esperava
num copo d’água
depositou o aparato bipartido
incrustado de brancos dentinhos lácteos
janela a fora
mais uma vez
completou sua missão
pela manhã
a criançada colhia os lucros
com seus sorrisos ventilados
pela manhã
a velhinha exibia novamente
um sorriso infantil.
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