Objeto-Desejo

Luana Tezza
edição 8

Já te vi quando não estavas lá,
Já te senti, forte, sem ainda te ter tocado.
A promessa do teu olhar nutre a esperança do meu delírio,
Um delírio que não requer contato,
Quer antes o olhar-mesmo, a promessa nebulosa, incerta.
Quer os rojões, a vitória da guerra que recusa confrontos.

Um delírio que dispensa impasses,
Livre, mundano, quase animal
Animal, como eu sempre rejeitei.
"Sejamos humanos, sejamos humanos, sublimemos nossos instintos".
Não dá. Hoje não dá mais.

Aprendi a ser animal, também.
A nutrir desejos mundanos, da carne.
E a glorificá-los.
Sou também carne.
Sou vazia, e cheia.
Às vezes derramo, às vezes falta, e volta o dia,
A noite segue.

O sol não inventa novo jeito de nascer,
Não inventemos novos amores.
Sejamos repetitivos,
Cotidianos.

Hoje amo a carne, na forma que ela delineia o teu corpo.
Amo os detalhes sórdidos,
A delícia do cheiro que é teu.
Amo tua impaciência, tua indecisão.
Se é pecado, não sei:

Amo tuas amarguras, tua preocupação,
Tua materialidade concreta,
De contenção e estouro.
Amo teu rosto cheio, e esses olhos que me interrogam,
Pedem um sinal, uma certeza,
Algo que suporte a decisão que não deve ser tomada, mas é urgente.

Não, eu não dou sinal, não dou base.
Eu flutuo, não suporto.
Eu navego, eu viajo, eu te olho de longe,
Eu vejo teu olhar nutrir o desejo que é meu

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