A Morte do Romantismo

Oscar P. Machado
edição 7

Fujo, não sei de que, e me escondo numa nova paixão, planejando, sem consultar minha nova metade-que-me-falta, transforma-la em amor. É assim? Não é? Primeiro paixão, fogo de palha, depois amor de verdade. Amanhã vou falar com ela, ou na segunda-feira. Passa. Na terça invento que ela não é tão bonita, que não era mesmo a mulher da minha vida.

Acho que fujo pra não perder o controle. Medo de se jogar de cabeça, como dizem. Essa história de entrega incondicional, total devoção, ausência de reservas, inteira confidência, nunca me pareceu muito sensata. Mas me arrisco mesmo assim, “vamos dar uma chance a nós dois”.

Talvez fuja, mas não admitirei nunca, do compromisso. Ora, concordemos, as pessoas mudam e não parece natural exigir que fiquem juntas o resto da vida. Enquanto não chega a morte que os separe, vivem numa solidão acompanhada.

Devo fugir é da triste conclusão de que nunca encontrei alguém que realmente me prendesse, que voltasse à minha memória (trazendo junta aquela saudade gostosa) quando suspiro, não poucas vezes, sem motivo.

Por fim, só, como em tantas ocasiões, saco a arma da razão e disparo um tiro misericordioso no romantismo, pois a musa nova nossa de cada dia que “Nos dai hoje”, como deu ontem, demonstra que o amor não existe.

Despetalado no chão, em seu último suspiro romântico, diz que o amor, apenas, ainda não pode existir.

(Das crônicas da infância da minha maturidade – Curitiba, 21/03/08 – Sexta-feira Santa – ambiente de morte e ressurreição)

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