Horizonte

Eder Alex
edição 11

O desenho do seu rosto é agora uma figura distorcida. Impressões imprecisas insuportáveis. Entre o bailar de névoas e poeiras adensadas pelo tempo, transito pela vida e esbarro nos móveis, bato os dedos nas quinas, quebro as porcelanas, tropeço nos livros espalhados pelo assoalho. Perdido entre existências e objetos deslocados.

Daqui vejo o novo horizonte plano feito o cartaz de um filme colado à parede, a imagem insinua profundidade, sugere um enredo, mas não passa de um truque para comprar os meus olhos. Penso que talvez a realidade esteja contida na cola seca que se afixa atrás desse cartaz, talvez esteja contida nos tijolos que exercitam unidos a estagnação tentando sobreviver ao tempo, talvez esteja contida em tudo que trespassa a pouca fé que me restou.

Meu corpo colide contra essa parede na vã expectativa de atravessar a imagem do cartaz e as dores que acordam meus ossos nada sugerem além da sensação de falência dos dias.

Então não há para onde ir, os escombros da nossa história impedem o meu caminho, formando um mapa confuso, que não aponta rumos, diante do qual eu percebo que não mais domino a geografia do nosso passado. Atravessávamos paredes, lembra? Era tão mais simples com você me guiando. Como éramos? Cerro os olhos e com pálpebras e pás escavo as lembranças, os eixos, os sexos. Onde estará o seu rosto?

Grito algum tipo de saudade ou de dor, mas o seu nome agora soa palavra desconhecida. São sílabas se esfarelando a cada novo eco incompleto que retorna à beira de mim. Nossa história aos poucos vai se tornando um sussurro surdo solto sem ninguém para ouvir.

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