César Fernandes
edição 10

dois meninos jonas que passam frio na grande e escura barriga da baleia.

nadam no grande e profundo mar das correntezas e ondas que levampuxammachucam a mão quando a mão raspa na areia do fundo do mar. dói quando a mão raspa na areia porque aí a gente lembra que nem só de água e cabelo molhado que bóia no mar, se faz a praia. de repente o fundo do mar foi ficando mais longe e aí parou de raspar a mão e só raspava o pé & de repente nem o pé raspava mais no fundo do mar. as águas vivas [que explodiram e viraram pedacinhos de geléia ou espermadebaleiacomovocêpreferirvocêdecide] são antecedentes ao estado de pedacinhos e são grandes bolas de esperma uniforme com braços que ardem se encostam nas mãos. ou nos pés. águas vivas e peixinhos que todos juntos cantam as dançam pra lá e pra cá no mar. depois de duas horas de luta contra o sal sonífero da água do mar, encontramos a baleia. quieta, com a crosta esburacada [grandes blocos de remédio pra arrumar os buracos da casca da baleia] e quieta. quieta. quieta e gelada. nadamos pra dentro da barriga grande barriga e escura barriga da baleia. meuteu nome é jonas. pinóquios de coração de meninos jonas que saíram pra nadar ou pra procurar algo que lhes acalmasse. a baleia tão quieta começa a se movimentar e peristalticamente precisa expelir os meninos pro mar. mar de carros e buzinas e mar com pingüins. o tal marvidaláfora que nos espera. cheio de areia, águas vivas, água-vivas, bolas de esperma e peixinhos que cantarolam. fica na cabeça martelando: é preciso saber que por mais que o mar seja gelado e que a mão e o pé doam quando raspam na areia, temos sempre nossa baleia e sua grande e escura barriga. a questão não é fugirseesconderfingirqueofundodomarnãomachuca. é ter nossa própria criação de baleias dentro dos corações de meninos jonas.

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