Moura Torta

Cynthia Becker
edição 9

A bela estava apressada para chegar em casa. Ei mocinha. Voz escondida. A moça procura. Ei mocinha, venha aqui. Sussurro vindo de trás da árvore. Ei mocinha, aqui.Encontro. Susto. Como é feia a nariguda enrugada! Sente aqui à beira do lago, me deixe pentear seus cabelos embolados. A Moura Torta seduz. Seduzida, a bela senta. Enquanto você se desespera com o tempo, eu te penteio.Olhos negros nos olhos azuis. Cuidado com o reflexo da água! Não se iluda, não se veja, não me veja. Você vai me ver em alguns anos, por muitos anos. Não deixe sua imagem engolir sua vida. Moura macabra! A moça estremece, enrijece, desfalece. Calma, quer ser heroína? Então espere pacientemente. Unhas compridas sobre a gadelha da moça. A moça. Você está aqui por si. Solidão é inerente a vida. Mas o todo é como você. Ame. Quem você nunca viu e quem você sempre vê. Surpresa da Moura. A Moura finca um alfinete na cabeça da moça! Desespero da moça. Ela agoniza, ela grita, ela desmaia à beira do rio. Gargalhada da velha de voz roca na penumbra roxa: Aprenda a existir! Sumiço da Moura. A bela abriu os olhos, olhou para o céu, sorriu. Casa, não pensou. Sinalizou, um carro parou. Nunca mais a bela voltou.

É necessária a autorização do autor para cópia de qualquer texto desta revista
Respeite os direitos autorais, cite a fonte.

Contato: revista@mariajoaquina.org