Do que não houve

Samantha Abreu
edição 9

Porque, de repente, deu-se conta de que era saudade. Mas foi surpreendida ao descobrir com isso, que saudade não existia apenas para o passado, mas também para o anseio de futuro. Soube que essa dor, talvez, fosse a pior: saudade de momentos ainda não-seus, vividos.

Rezou a Peruda, o garoto guerreiro tupi que dominava o reino de tal loucura.

- Mas como é que se quer de novo uma coisa que ainda não teve? Perguntaram, ela e o pequeno viajante do vento, tentando enganar a serpente que tentava convencê-la ao desespero.

A serpente explicou que o amor era a tal maçã do poder, e que era possível, sim, que ela sentisse tal febre por apenas cobiçar, afinal, o coração feminino era cheio de razões obscuras. Então, encheu seus olhos com imagens vivas da tal vida plena e ela se viu senhora-protagonista daquela história ainda não escrita. Sentiu, mais uma vez, a pontada da falta, do espaço exato, no vácuo, para o encaixe das tais quatro palavras: A-M-O-R.

Entregou-se.

Amor e serpentes não são boas companhias quando juntos. Nem menino guerreiro pode vencê-los.

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