Letragozopa

Luana Tezza
edição 12

Sem tensão eu não escrevo.
Eu emudeço, e sumo.
Sumo de mim, esqueço de mim e vibro:
Vibro a gota de orvalho,
O senhor que desenha a margem da rua
(A)o filho que não quer riscar, ar.
Arrisca.
Cai.
Ah!
Ar.
Eu sem tensão esqueço de escrever
Escrevo o que não pensei
Não sei, senti?
Escrevo palavras soltas
Que vêm como o vento,
Desobrigadas,
Desabrigadas.
A vida sem tensão
Passa como o respiro
E mais demorado, o meu respiro em tempo sem crise.
A tristeza é também estar bem?
Sem crise,
Escritora da vida que não é só a vida que chora,
Me desescritoro.
Sem escrita, nem escritório.
Vivo a vida do sujeito simples
E random.
Sem crise me desespessoalizo
Enxergo outro
E outras
Sem o drama da pessoa,
Sem o desespero engasgado, regrado, repetitivo.
Em estado melancólico umbigo-centrado
Sou posta a escrever.
Eu sem crise (estado bobo!)
Me disponho a escolher letras que dão sopa
E brinco, e rio, e gozo da letra,
Não é ela quem goza de mim.
Em tempo sem crise
Faço pesquisa da escrita
Sinto quase vazio:
Falta o drama que fere, insiste, machuca;
A sofisticação da lagrima, ou da língua;
A dureza (ou a certeza) do corpo.
Respiro profundo
E cheia, e bem
E sem mente e sem corpo, sem eu
Ao canto elaborado, prefiro.
A dor, que venha!
Ou será o amor?

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